sábado, 19 de junho de 2010
Beatriz Isabel
Um dia ela apareceu, alegre, saltitante, meiga, e apaixonada pelo Lé. Ele chorava de amor por ela então um dia, depois de uns três, ou quatro dias, em que ela me via sair pelo portão e vinha correndo feito um tufão, e que ficava parada, olhando com corações saltando pelos olhos pro Lé, ele aqui dentro, ela lá fora, resolvi deixá-la entrar em casa para brincar com ele. Deliraram até cansar, e depois dela encher a pancinha, mandei-a de volta para casa. Só que ela não tinha casa. Ficava, pequenininha, magrinha, no meio da rua. Largaram-na para trás, quando, subespécies que são, mudaram de casa. Na terceira vez em que ela veio brincar, meu coração se partiu colocando-a de volta na frente do bar, onde ela ficava. Voltei pra casa chorando. Não tinha permissão da minha mãe para ter mais um cachorro em casa. Ela nem estava aqui, estava de ferias, viajando. Mais tarde, dormi. O Lé na sua caminha, cheio de cobertas e talz. Ela, no chão frio. Pedi, como sempre faço, que Deus desse a ela, e aos outros, amor, comida, água, calor e proteção. Sonhei. Um dos sonhos mais lindos que tive. Mais do que um sonho, quem acredita que sonhos podem ser mensagens sabe do que falo. Eu a via correndo pra mim, dizendo “meu nome é Isabel! Eu sou sua! Deus me mandou pra você!” Acordei chorando. Abri a porta pro Lé entrar, mas ele estava no portão, e ela, olhando pra mim, com a cabecinha pendendo pro lado, sua carinha de meiga. Falei “então é assim! Se você é minha, então entre”, e abri o portão, e ela nunca mais saiu daqui. Só para ir ao médico, fazer sua castração, e nunca mais saiu daqui sozinha! Sempre comigo e com o Lé. Doce, gulosa, fofa, delicada, brava, encrenquerinha, beijoqueira, manhosa. Decidi acrescentar-lhe ao nome que ela mesma me disse que tinha, o Beatriz. Beatriz Isabel. Minha rainha, minha filha. Sempre comigo, muitas vezes teimando! Nunca vi uma teimosa tão teimosa na minha vida, escorpiana total, e sedutora...Nunca entrou alguém aqui em casa que não dissesse que gorduchinha linda! Mas que pelo lindo! E todos os elogios possíveis e que são facilmente feitos aqueles que são de natureza sedutora e carinhosa. O Lé é mais arredio, difícil de “dar mole” pra alguém, rs. Leopoldo Henrique. Um conhecido disse certa vez que eu via novela mexicana demais. Não! Não vejo mesmo, mas esses dois além dos nomes, certamente são personagens de histórias que fariam sucesso estrondoso se noveladas fossem, rs. O que a gente faz com o tempo nem sempre é o melhor que podemos fazer. Eu principalmente, passo tanto tempo pensando besteiras, sofrendo minhas dores existenciais. Reclamando, brigando com Deus. Sempre agradeço pela existência desses dois em minha vida, sem eles eu teria morrido há muito tempo. Tê-los comigo é o que me faz ainda querer continuar. Pelo amor imenso, sem limites que tenho por eles. Amo todos os animais. Mas eles, Lé e Bê, são parte da minha alma. Quem gosta de animais sabe do que eu falo, e quem tem filhos, e gosta deles, também sabe. Filhos não precisam ser apenas os humanos. Se eu pudesse voltar atrás no tempo, (e como queria!), teria passado muito mais perto deles. Perto dela. Colada, grudada! As almas mais importantes da minha vida. Quem eu mais amo na vida, mais do que tudo, mais que todos, que é o que digo pra eles todos os dias. Sufocando-os de amor. E continuarei dizendo. “Eu sou Isabel! Eu nasci pra você. Deus me mandou pra você!”. Quinta, eu não a mandei de volta. Jamais faria isso! Mas deixei-a ir. Falei pra Deus o que ele sabe, que por ela eu daria a minha vida. Disse que desse as dores dela pra mim, que tirasse dela. Achei o tempo todo que ela se curaria logo, que era só um mal estar passageiro. E quando ela parecia estar melhorando, Ele a quis de volta. Não me reconheço. Eu, que brigo tanto, que xingo tanto, que sou tão ardorosa nos meus ódios e raivas. Que sempre tive a tendência de achar e de viver como “sempre tudo dá errado pra mim”, em nenhum momento pensei ou disse qualquer dessas coisas. Agradeci a Deus por tê-la mandado pra mim. Não imagino como será minha vida sem ela. Meu coração está arrebentado. Mas não brigo com Deus. Não entendo porque ela foi agora. Cada espaço da minha casa, e da minha vida está cheio dela. E continuará a ser assim. Nunca perdi alguém que amava para a morte. Mas meu amor é o mesmo, Beatriz é parte da minha alma. E até poder estar ao lado dela de novo, vou estar com o Lé. Que precisa de mim como eu dele. Como que ele vai entender que os anjos a levaram? Ele a procura pela casa, deita na cobertinha dela, cheira, chora. Choramos todos. Minha mãe que é durona, está arrasada. Mas a presença da minha filha comigo, dentro de mim é tão forte, que é como digo, é parte da minha alma. “Quem a mãe mais ama no mundo? Lé e Bê, pra sempre!” Disse agora a pouco isso pro Lé, que mais uma vez foi até a porta, esperando pela volta dela. Cantei pra ela sua musiquinha, a versão modificada que ela erguia as orelhinhas pra escutar “Você é luz, é raio estrela e luar, manhã de sol, meu iaia, meu ioio, você é sim, às vezes meu não, quando tão louca, balança o rabinho e late um montão!”. Sinto o tempo todo o pesinho dela no meu colo. Seu cheiro, seu calor gostoso. Sinto falta das bundadinhas que ela me dava na cama, me empurrando para ficar com mais espaço, ou dela se jogando em cima das minhas pernas deixando-as amortecidas, rs. Seus olhos estão diante dos meus, me olhando, se enxergando dentro deles, dentro de mim, e eu dentro dela.
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Em primeiro lugar, meus sentimentos. Quem já perdeu um bichinho assim sabe como é dureza. Como dói. E depois ainda vêm-me dizer o absurdo de que "animais não têm alma." Enfim, que chafurdem em sua arrôgancia.
ResponderExcluirEm segundo, não se preocupe com as visitas... Após ler este texto e ver seu comentário, vejo que a semana foi daquelas penosas mesmo. E parece-me que afligiu a quase todos...
Quanto amor, são especiais e cuidadosos, ganhou mais um anjo da guarda, dos tantos que já tem.
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