segunda-feira, 24 de maio de 2010

Gate (escrito em 2004)

Sabe aquele castelo, meio em ruínas, cinza? Aquele onde a vegetação em volta é densa, tão densa e escura que oprime, quase sufoca? A calçada que leva à entrada não vê cuidados há tempos e entre mato e buracos há musgo e sujeira. Bom, ele tem uma porta, daquelas arredondadas, com aquela alça à guisa de campainha. Tem uma careta de um monstrinho orelhudo na alça, fixando-a a porta. Nas portas não há trancas ou cadeados. Quem entraria ali? Abandonado há tanto tempo que já é esquecido! Eu vejo esse castelo sombrio todos os dias, nem que seja apenas num relance, um micronésio de segundo que estala! E às vezes adentro seus portões. Eles rangem, mas não são difíceis de serem abertos. Não! Na verdade é bem fácil passar por eles. Por algum tempo eles permanecem entreabertos. Aos poucos, enquanto prossigo e avanço, caminhando em direção a calçada, eles vão se fechando, sem ruídos. Tropeço aqui e ali naquela calçada imunda e esburacada, pois até parece que a última pedra é lisa e limpa! O verde escuro, quase negro recobre o lugar. É como uma redoma. Frio. Friíssimo. Até o silêncio é gelado. As gárgulas me olham de soslaio lá de cima, fingindo não ver e não se importar com minha presença no que consideram seu território único e exclusivo. É tão escuro que voltar porque, se aquela pedra, aquela primeira, perto da porta, brilha e chama? Depois de tropeçar tantas vezes e escorregar no musgo e ter os joelhos ralados, quero a pedra, a que está em frente da porta como mostrando que é ali onde devo chegar. Não devo? Será que os portões se abririam novamente com a mesma facilidade da entrada, na saída? E se quebrar a perna voltando? E o frio? Lá na pedra é quentinho, pois brilha tanto com tanta beleza há de ser quente também, não?E é. Grata surpresa! Eu toda brilho! Sem frio, sem medo e sem arranhões. Ainda daria pra voltar. Algo chama! Volta!!! Mas o som é confuso e erguendo o braço alcanço a alça que faz vezes de campainha. Gelada. Aço gelado. Com uma ferrugem que gruda na mão. O som é estrondoso, poderoso e doloroso. Tapo os ouvidos com dor estampada no rosto e a pedra, a primeira do calçamento, se mostra exatamente igual às outras, suas companheiras encardidas e fétidas. A porta, enorme, arredondada, vai se abrindo com guinchos. E eu entro.

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